MUDAMOS DE ENDEREÇO

MUDAMOS DE ENDEREÇO
MUDAMOS DE ENDEREÇO TODAS AS POSTAGENS DAQUI, ESTÃO LÁ. ABRAÇOS E OBRIGADA. silvia masc

domingo, 16 de novembro de 2008

MÃE JUDIA – O RETORNO


Minha mãe leu o ensaio anterior. Ficou sem falar comigo!!! Por quatro horas. Foi o máximo que ela conseguiu. Um recorde. Disse que eu desconheço as regras da boa educação e que não se fala assim da própria mãe. Nem da avó e bisavó. Que isso é um desrespeito. Afinal, elas se matam por nós (sabemos que isso não é nenhuma novidade). Além disso, o que os outros vão pensar, disse ela. Que ela não soube me educar? Que não foi o suficientemente presente para que eu pudesse respeitá-la de forma mais adequada? Que ela não sabe cozinhar? Que caí na vida, desconsiderando toda essa grande luta dela? (Luta mesmo: para elas, tudo é muito difícil e penoso, sempre quintuplicado). Uma mãe judia, recebe a ligação da filha, que há algum tempo morava fora, numa cidade vizinha onde cursava a universidade: − Oi mãe... − O que aconteceu com você? (uma das características da mãe judia: sofrer por antecipação) − Nada mãe. Só liguei para dizer um “oi” e conversar um pouco. − Você não me engana. O que houve? Esse não é um horário que você costuma me ligar (as mães judias sabem exatamente o horário de cada coisa que fazemos). − Mãe, pára com isso. Eu só quero uma opinião... − Ta vendo? Eu sabia. O que aconteceu? Fale logo antes que eu realmente tenha um treco. Pode ser sincera com sua mãe. Você está grávida? Você está usando drogas? Você está presa? Você matou alguém? (as mães judias são fatalistas). − Nada disso mãe. Eu me casei.
Silêncio mortal. − Mãe? ... ... ... − Mãe? ... ... ... − Mãe, por favor, fale comigo. ... ... ... − Já ouvi. Não precisa gritar. Não sou surda. Apenas achei que iria infartar, mas passou. Foi só um susto. Como você pôde fazer isso com sua mãe? Como pôde me trair desta forma tão vil? O que eu e teu pai fizemos para você? Não fomos o suficientemente bons? Aonde nós erramos? Pode falar que eu agüento. Nada vai me afetar... − Mãe, não fala assim. Você bem sabe que é a melhor mãe do mundo. Mas queria te falar uma coisinha: ele é um bom rapaz, mas não é judeu. Novo silêncio mortal. ... ... ... −Mãe? ... ... ... − Mãe? ... ... ... − Não pode esperar um pouco? Não percebe que eu estou com falta de ar? Acho que vou precisar de um balão de oxigênio. Está vendo o que você fez? Você conseguiu. Está satisfeita? − Calma mãe. − Eu sempre estou muito calma. Se por acaso eu morrer, o telefone da Chevra Kadisha está na gaveta do meu quarto. Quero um lugar bem florido. Mas uma coisinha simples. Sem exageros. − Mãe, não faça isso. Ele é uma ótima pessoa. Até pensa em se converter. − Oh Deus. Você está me fazendo sofrer muito, sabia? Meu peito dói. Não sei se vou agüentar. − Calma mãe. As coisas não são tão graves assim. Nós apenas estamos passando por um momento difícil: ele está desempregado e fomos despejados. Pensamos em passar uns tempos aí, até as coisas melhorarem. O que a senhora acha? ... ... ... −Mãe? A senhora está aí? ... ... ... −Mãe? Responda... Eu to ficando aflita.

−Mãe, por favor... − Eu já ouvi. Estava apenas me recuperando da queda. E pensando neste seu problema. Mas já tenho a solução. − Sério Mãe? O que a senhora pensa em fazer? Vai poder mesmo nos ajudar? − Mas é claro. Ou você acha que eu sou uma daquelas mães desalmadas que não liga para os filhos? Você deveria saber disso. Não sei aonde errei, mas vamos fazer o seguinte: coloco você e esse seu sei-lá-quem no meu quarto. − Mãe, ele se chama Eduardo. − ado, mado, shmado, tanto faz. Melhor se fosse Moishe ou Yankel. Mas não é. Eu não merecia este tipo de genro. Acho que fui má para você. Mas Deus está vendo tudo. − Não fale assim dele. Ele é uma ótima pessoa. Mas voltando, aonde você vai colocar o papai? Aonde ele vai ficar? − Ele dorme no sofá da sala. − E a senhora, mãe? − Eu? Não se preocupe comigo. Vou ficar bem. Como assim, mãe? − Já disse, tudo vai ficar bem... − Mãe, responda, por favor. − Nada de especial. Assim que você desligar o telefone, vou me jogar pela janela. Dois dias depois a mamale pôde andar novamente: morava no andar térreo.E como de costume, não estava errada.



David Sergio Hornblas

Psicólogo/psicoterapeuta, especialista em desenvolvimento humano.
Professor universitário e pesquisador pelo CNPq/PUC-SP.
Musicista e Escritor Amador.
Você poderá ler outros textos do Dr. David:
aqui

0 comentários:

  © Blogger template 'Perhentian' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP