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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

AIDS - Entrevista - Dr. Dráuzio Varela

Cresce o número de mulheres infectadas pelo vírus da aids no Brasil. Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, as casadas ou que possuem parceiros fixos e vida regular estão sendo contaminadas por seus companheiros que levam vida sexual dupla. O médico infectologista Dr. Dráuzio Varella, especialista em aids no Brasil, concedeu a seguinte entrevista ao Poupetempo, comentando os dados preocupantes da doença em nosso país:


Por quê as mulheres estão sendo mais contaminadas pelo vírus da aids ?


Dráuzio Varela: Essa é uma tendência que vem desde o final dos anos 80 e, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, as mulheres que correm mais riscos são as monogâmicas, as casadas e aquelas que têm relação afetiva estável. Por um motivo: elas não se protegem, não usam preservativos. E os homens, que muitas vezes têm um comportamento mais diversificado, se infectam na rua e levam o vírus para casa, contaminando suas companheiras. O número de casos de aids entre os homens aumentou 5% e entre as mulheres, 18%. Esses dados indicam que o crescimento da doença entre as mulheres caminha numa velocidade três vezes maior do que entre os homens.

Como essas mulheres devem agir?

Dráuzio Varela: Eu, honestamente, não vejo solução. Existe uma corrente dentro do Ministério da Saúde, que não envolve o ministro, mas está entre as pessoas que definem a política de aids, de se bater no argumento de que as mulheres devem exigir de seus maridos o uso de preservativo dentro de casa. Eu acho isso uma guerra perdida. Qualquer um de nós que é casado e que vem com um relacionamento durante anos e anos sem preservativo, de repente, mudar, por exigência da mulher, tem pouca chance de dar certo. Acho que uma maneira seria responsabilizar criminalmente os homens que infectam as suas mulheres. Isso é crime. Alguns acham crime uma palavra pesada para isso. Mas sair às ruas, se relacionar com outras mulheres, se infectar e, só porque não quer usar camisinha, contaminar a companheira, no meu entender, é crime. Não porque é infiel, mas porque não usou a camisinha. Afinal, isso é crime ou o que é? Se os homens que contaminam suas mulheres em casa fossem processados criminalmente, talvez eles tomassem mais cuidado.

Isso já está no Código Penal.

Dráuzio Varela: Sim. É lei, né ?

Por quê os homens estão se infectando menos do que as mulheres ?

Dráuzio Varela: Se você analisar a doença desde o início, vai notar que ela começou entre os homens usuários de drogas injetáveis e homossexuais. Eles foram passando uns para os outros. Aí tivemos a geração seguinte, que foi a das mulheres. Os homens passaram para elas e agora a epidemia caminha mais depressa entre as mulheres.

Qual é o quadro real da aids no Brasil ?

Dráuzio Varela: A aids vem aumentando. Nos últimos seis meses, 11 mil mulheres desenvolveram a doença. Hoje 45% das pessoas infectadas são mulheres. No começo da epidemia, era um caso de mulher para cada 18 a 20 homens infectados. Hoje é praticamente um por um. Tem algumas cidades pequenas que chegam a ter dois casos de mulher para um de homem. A doença é cada vez mais feminina e continua aumentando. O que parou foi de chamar a atenção. Quando surgiram novas drogas para o tratamento da aids, e que foram a salvação para muitos doentes terminais, elas tiraram um pouco do interesse pela doença. A aids já não é considerada apavorante e uma doença que mata. Mas continua se disseminando.

Podemos dizer hoje que a aids não mata ?

Dráuzio Varela: A doença é hoje encarada como uma infecção crônica, como outras doenças que você trata pelo resto da vida. Começa a tomar remédios e controla sua evolução. Quanto à possibilidade de cura, de acordo com o que se conhece do ponto de vista científico, não há nenhuma possibilidade de erradicarmos o vírus do corpo de quem foi infectado. Pode ser que daqui a um, dois ou cinco anos, surjam drogas capazes de destruir o vírus, mas isso é ficção científica. Não temos nenhuma linha de pesquisa nesse sentido.
Eu acho que isso um dia virá, mas é só uma esperança.

Como agir hoje para não pegar aids?

Dráuzio Varela: É uma doença muito fácil de não pegar.
- É só não injetar drogas nas veias. Hoje até no meio da marginalidade a injeção de drogas é muito baixa. Existe uma conscientização nesse sentido. Resta o sexo. Aí nós temos duas alternativas. Não praticar ou, para aqueles que acham que a vida fica sem graça dessa maneira, usar preservativo do começo ao fim da relação. Há muitos homens com mais de 40 que veêm na camisinha uma barreira para ter um ereção mais vigorosa. Mas hoje há remédios que garantem essa performance e não é desculpa. Aqueles que são casados, que têm noivas ou parceiras sexuais fixas não têm o direito de se infectar e passar o vírus para a mulher.

1 comentários:

Anônimo

muito dez
valeu mesmo

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