Estamos em época eleitoral - Por David Sergio Hornblas
Não sou candidato a nada. Nem tenho nenhuma pretensão política. Nem nunca terei. Estou apenas preocupado. Talvez amedrontado. Não com ideologias distintas da minha, mas com quem as veicula. O que se houve sempre são palavras, propagandas e promessas. Uma espécie de três “P’s”. Todos têm solução para tudo e me impressiona a quantidade de patriotas que do nada, surgem para resolver as mais complexas questões do país.
A situação anda tão brava, que o próprio governo sugere cautela na escolha dos candidatos. Eles têm medo de perder a boquinha. Isso vale para todos os governos. De esquerda, de direita, do centro, sul, norte, leste ou oeste. Nem eles acreditam neles mesmos. Há de tudo: de malandros à defensores de brigas de galo. De paranóicos que vão asfaltar o rio Tietê a mentirosos que juram construir mil quilômetros de Metrô. Só faltam os punguistas clamando pela legitimação desta ação, alegando “direito ao trabalho”. Uma certa candidata de apelido Dinha, colocou em seus cartazes e santinhos: “Tudo pela Dinha”. Não é possível fazer da política um grande picadeiro, embora, por vezes, a ele se pareça, tendo os palhaços – nós – como protagonistas desta situação toda. De certo que a sociedade deve ter sua representatividade garantida em todas as esferas, mas tenha dó ! Não se pode eleger alguém simplesmente porque ele tem o apoio de uma determinada aglomeração de pessoas ou porque são reconhecidamente pessoas de grande exposição na mídia tipo, apresentadores, atores, ou ainda, que tendo perdido seu espaço nessa seara, se aventuram na jornada política. Afinal, além do amor à nação, garantem esse imenso amor aos seus próprios bolsos.
Nas sociedades democráticos plenas, malandros, exploradores da inocência humana, colaboracionistas de épocas violentas e de exceção, estão na cadeia e não se candidatando a cargos públicos. Se é que nesses países, a escória se candidata à alguma coisa. Anjos alinhavam o tecido político com demônios. E comem na mesma mesa. Afinal, é dando que se recebe. Uma espécie de furúnculo incurável. Essas são pessoas, que pelas regras democráticas, podem representar o leitor, sua família e à mim. E nestas condições, temos que aceitar. Mas me corrói a alma. Para estancar este processo, não é a clarificação ou registro dos seus respectivos programas de governo em cartório, porque, infelizmente, além dos cartórios serem elementos de concentração de poder, muitos brasileiros sequer sabem o que é um “programa de governo”. Essa exclusão acaba legitimando esses cancros em nossa política, retardando nosso progresso enquanto nação emergente. Isso também não vale para pseudo-procurações doando bens ilegais eventualmente encontrados. Aí está a questão: alguns maus, sabem fazer o errado bem feito. E isso não vale. Pelo menos para mim. E não somente eles: políticos profissionais também deveriam ter limites. Bancadas eleitas por interesses econômicos poderosos então, nem se fala. Pelo menos 50% das bancadas se repetem. Isso significa que a renovação dos maus, que vão mal, porque fazem o mal muito bem, vai se perpetuando através de esquemas eleitoreiros e promessas vãs.
Ou uma cesta básica.
Há programas políticos que embolsam famílias inteiras e famílias esfaceladas embolsam R$ 80,00. E se der certo,os proprietários desse “direito autoral”, vão arrepender-se amargamente. Uma espécie de feitiço contra o feiticeiro. Um bumerangue de efeito retardado. O que parece ser um caminho inexoravelmente bom é a informação, capaz de ser entendida e produzir mudança de atitude. Num país de desdentados e famintos, esse processo levará anos. Ainda assim, somente será efetivo, se as pessoas puderem educar-se. Em outras palavras, acesso à escola e ao saber. Este é o principal ingrediente na fórmula da construção da cidadania.
Quando se produz conhecimento, quebra-se as pernas da desigualdade social e da exclusão, libertando todos, das garras da manipulação política.
David Sergio Hornblas
Psicólogo/psicoterapeuta, especialista em desenvolvimento humano. Professor universitário
e pesquisador pelo CNPq/PUC-SP.
e pesquisador pelo CNPq/PUC-SP.
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