MUDAMOS DE ENDEREÇO

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Alzheimer por Roberto Goldkorn - Colaboração da leitora Maria Inês - Rib. Preto/SP

Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu,ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.

Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que...', frase que me dá arrepios. Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença.

Hoje, precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes em suas famílias.


O que está acontecendo? Estamos diante de um surto de Alzheimer? Finalmente nossos hábitos de vida 'moderna' estão enviando a conta? O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença? Qual é o lado oculto dessa manifestação tão dolorosa?
Lendo o material disponível, chega-se a uma conclusão: essa é uma doença extremamente complexa, camaleônica, de muitas faces e ainda carregada de mistérios.

Sabe-se, por exemplo, que há um componente genético.
Hábitos alimentares?
Stress das pressões do Primeiro Mundo?
Mas o Japão não é Primeiro Mundo?
Não tem stress?

A alimentação parece ser sem dúvida um elo nessa corrente, e mais ainda o alumínio.Segundo algumas pesquisas, a incidência de alumínio encontrada nos cérebros de portadores da doença é assustadoramente alta.Pesquisas feitas na Austrália e em alguns países da Europa mostraram que, em ratos alimentados com uma dieta rica, o sulfato de aluminio (comumente colocado na água potável para matar bactérias) danificou os cérebros dos roedores de forma muito similar à causada nos humanos pelo Alzheimer.

COMO?

Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida 'bandida'.

Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer.Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não
nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.

Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não existem estudos provando que o Alzheimer é a moléstia preferida dos arrogantes, autoritários e auto-suficientes, mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa nesse mato.

Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.
Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum... Preocupante. ) Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade.Parodiando Maiakovski, que disse 'melhor morrer de vodca do que de tédio, eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Roberto Goldkorn é psicólogo e escritor.


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